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ÁUDIOS SOBRE ARREBATAMENTO
O arrebatamento da igreja
 
“E aconteceu que, tornando eu para Jerusalém, quando orava no templo, fui arrebatado para fora de mim. ” – (Atos, 22:17)
 
          Entre os evangélicos, fervilha uma teoria que diz que, antes do Dia do Juízo, os crentes serão arrebatados para o céu, enquanto o mundo terreno e talvez todo o Universo, consumir-se-á no fogo eterno. O interessante é que os que não acreditam nessa teoria são tidos como verdadeiros inimigos da verdade. Assim como na história cristã de todos os tempos, para os anunciadores dessa pretensa verdade, quem não acredita está incluso no grupo insano dos hereges e, como tais, devem ser banidos. O bom senso diz que todas as ideias movidas por paixões humanas não devem ser consideradas revelação do Espírito Santo.
         Para os crentes interessados na verdade de Deus, é importante o aprofundamento da questão. De onde teria vindo esse pensamento? Aparentemente, nasceu das palavras do apóstolo Paulo, quando ele escreveu sua primeira Carta aos Tessalonicenses, capítulo 4, entre os versículos 13 e 18:
 
“Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor.
Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras. ” (1 Tessalonicenses 4:16-18)
 
         Ora, Paulo estaria mesmo dizendo o que os “arrebatacionistas” entenderam? Ou seja, que nós iríamos ser arrebatados carnalmente para os céus? Paulo teria conhecimento suficiente a respeito do que se passa com a alma do outro lado da vida, para falar tal coisa? Veja que esse mesmo texto do Apóstolo prestou-se à absurda tese de que as almas ficam dormindo até o Dia do Juízo. Ora, basta ter conhecimento dos princípios fundamentais do Evangelho da Salvação, para saber que, depois da morte do corpo, a alma segue existindo do outro lado, sem evidências de qualquer tipo de sono. A passagem da crucificação de Jesus, por exemplo, pode tirar qualquer dúvida:
 
“E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.
E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso. ” – (Lucas 23:42-43)
 
         “Hoje estarás comigo no Paraíso”, disse o Senhor ao bom ladrão. Não se refere a nenhum sono depois da morte. O mesmo se dá com o rico que vivia como um rei, indiferente ao mendigo que pedia esmolas na calçada do palácio. Morreu e foi para o inferno, enquanto o mendigo teve como destino o céu (LUCAS 16). Também aqui não há nenhuma referência a sono pós-morte. Evidentemente que não se está desprezando os ensinos de Paulo. Mas existem certos equívocos e dúvidas em determinadas passagens, provocados por traduções imperfeitas ou pela interpretação radical das letras. Ora, o próprio Paulo disse que a letra mata e que o Espírito vivifica (2CORÍNTIOS 3:6).
         Ambas as teses, a do arrebatamento e a do sono pós-morte, não sustentam qualquer análise crítica, tendo como base o conjunto dos ensinamentos bíblicos. A palavra das Escrituras não pode contrariar a si mesma. E, se isso parece acontecer, com certeza, há algum erro de interpretação ou de tradução.
         A vida depois da morte está devidamente demonstrada na Bíblia Sagrada, tanto no Velho quanto no Novo Testamento. Ensinar o contrário é conspirar contra Deus e Seu Cristo. A alma continua existindo do outro lado, de posse do seu corpo espiritual, cuja existência foi ensinada pelo próprio Paulo (1CORÍNTIOS 15). Na volta de Cristo, os que já partiram e foram salvos voltarão com o Senhor para a “ressurreição final”, chamada também de “segunda ressurreição”. Depois desse tempo, estabelecer-se-á o estado definitivo da alma. Voltemos ao arrebatamento, motivo deste escrito. Com referência às palavras do apóstolo Paulo, consideremos algumas posições bíblicas.
         Primeiro, Paulo, como todos os apóstolos e muitos outros cristãos em todas as épocas, pensava que o mundo estava prestes a acabar. Paulo não estava escrevendo nenhum mandamento (os mandamentos já tinham sido postos por Moisés), mas falava aos tessalonicenses da sua esperança em encontrar Jesus nos céus. Todos sabemos que as tradições indicam que Paulo morreu decapitado. O fim do mundo que ele esperava não aconteceu naquele tempo. Não há nada de errado nisso. Nós também esperamos o fim do mundo chegar ainda em nossos dias, mas isso pode não acontecer. Tal “equívoco” não nos faz menos dignos diante de Deus, uma vez que o Seu próprio Filho disse que nem mesmo ele sabia quando o fim se daria (MARCOS 13:32).
         Em segundo lugar, sabemos que Paulo não era profeta, mas tinha dons espirituais, entre eles, o de desprender-se do corpo físico e entrar nas dimensões espirituais. Foi levado aos céus, conforme relata. Mas, no relato desse arrebatamento, mostrava-se confuso, conforme suas próprias palavras na segunda carta aos Coríntios, capítulo 12, versículo 2: “se no corpo, não sei; se fora do corpo não sei; Deus o sabe”. Também lhe foram ditas coisas sem que tivesse permissão para revelá-las: “ouviu palavras inefáveis, que ao homem não é lícito falar”. Ora, quem poderia garantir que Paulo, ao escrever sobre sua esperada subida nas nuvens, não continuasse confuso acerca da ascensão aos céus da alma ou do corpo? Ninguém pode oferecer garantia, a não ser que interprete o absolutismo das letras, atendendo a interesses de homens ou espíritos estranhos, sem considerar que Deus não é o absurdo. Uma passagem bíblica, para se tornar doutrina, deve ser chancelada pelos ensinamentos gerais das Escrituras.
          A tese do arrebatamento contraria pregações dos profetas e do próprio Senhor (ISAÍAS 66, APOCALIPSE 21, 2 PEDRO 3, SALMOS 37, MATEUS 5 e similares). Outro fato importante está descrito no capítulo 22, do livro Atos, versículo 17. Ao defender-se da turba que queria matá-lo, Paulo disse textualmente: “E aconteceu que, tornando eu para Jerusalém, quando orava no templo, fui arrebatado para fora de mim”. Fica claro e evidente que Paulo fora arrebatado em espírito e não em carne. De outro modo, não diria “arrebatado para fora de mim”. Teólogos evangélicos e católicos fogem dessa tese como o diabo da cruz. E qual a razão? Passagens contendo esse tipo de informação levam a suspeitas de que haveria independência da alma em relação ao corpo (gnosticismo).
         Se um profeta é levado “em espírito a determinado céu”, isso significa que, obedecendo a um propósito de Deus, sua alma deixou o corpo e foi levada ao céu, tendo depois voltado e narrado sua experiência de revelação extracorpórea. Essa tese sempre foi duramente rechaçada pela Igreja secular, de onde foram geradas todas as igrejas cristãs da atualidade. A questão é delicada para os teólogos. Admitir a existência da independência entre Corpo e Alma levaria obrigatoriamente a uma reforma da teologia que, em termos espirituais, ainda é uma criança de fraldas. E, por consequência, provocaria profunda reforma na Igreja cristã. Haveria uma grande confusão, porque certas “inverdades” teriam sido ensinadas por séculos. Alguns pais da Igreja, que dela foram expulsos como hereges, teriam de ser reconhecidos como homens idôneos. A Igreja, como já o fez em casos semelhantes, teria de pedir desculpas póstumas por condenar inocentes à execração secular. A Igreja evangélica é apenas uma filha rebelde daquela católica, nada mais. E, nesse particular, comunga com os mesmos equívocos da Igreja mãe.
         Os tradutores, percebendo o embaraço, evitaram usar o termo “arrebatado em espírito” e preferiram “arrebatado no Espírito”. Pode parecer a mesma coisa, mas não é. Quando você diz “arrebatado no Espírito”, o sentido é de que você foi arrebatado no Espírito Santo, sem dizer coisa alguma de como isso aconteceu. Quando se usa “arrebatado em espírito”, o sentido é de que a alma do indivíduo deixou seu corpo, subiu aos céus e depois retornou ao corpo.
         Fica evidente que Paulo se mostrou confuso em relação ao desprendimento da sua alma, mas que, em alguns momentos, ele sabia que estava sendo arrebatado para fora do corpo. Diante de tais incertezas, as palavras do Apóstolo, que encontramos na Carta aos Tessalonicenses, não deveriam ser tomadas como base para uma teoria tão estapafúrdia, que já levou multidões a crerem num evento que tem tudo para não acontecer. 
         Temos afirmado que o exame das profecias mais significativas da Bíblia Sagrada, relacionadas com o fim do mundo, isto é, ao Apocalipse de João, o Sermão Profético de Jesus e o Livro de Daniel, absolutamente nada diz de um possível arrebatamento de pessoas, com a destruição do mundo. Os defensores da ideia utilizam passagens pontuais, a maioria delas experiências individuais, para argumentar a favor do arrebatamento do corpo. Porém as interpretações dadas não sustentam um exame aprofundado diante da concordância e da lógica bíblicas.
         Oficialmente, a concordância bíblica da passagem de 1 Tessalonicenses aponta para o Apocalipse, capítulo 11, versículo 12; e para o Evangelho segundo João, capítulo 12, versículo 26. Mas, do que trata o Apocalipse 12? Fala da subida aos céus de duas testemunhas de Deus. Nada tem a ver com o arrebatamento de crentes, como se pretende fazer entender. E João, capítulo 12, o que diz? Afirma que se alguém serve ao Senhor, deverá segui-Lo. E onde Ele (o Senhor) estiver, aquele que O seguir estará também. Não faz nenhuma alusão ao arrebatamento do corpo.
De acordo com alguns dados existentes na internet, a tese do arrebatamento teria surgido na Europa do século 19, por meio das visões de uma mulher que estava visivelmente perturbada. Da Europa foi para os Estados Unidos e de lá acabou sendo trazida por missionários americanos para o Brasil. Eles fundaram seitas que estão espalhadas pelo país, com práticas que pouco ou nada têm de ver com o Cristo. A doutrina que professam é uma mistura incoerente de conceitos aleatórios do Velho e do Novo Testamentos.
         Nos Estados Unidos, onde está o maior número de crentes do arrebatamento, alguns escritores ganham muito dinheiro escrevendo sobre o assunto. E ajuntam em torno de si uma multidão de almas exaltadas, que pensam que, no derradeiro momento, antes do fim do mundo, serão levadas para uma vida paradisíaca nos céus. Provavelmente por terem desmedido amor às suas vidas temporais, querem mantê-las nos “céus”, ainda que Jesus tenha dito: “Qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.” (MARCOS 8:35). Filmes com esse estranho conceito têm sido divulgados, ajudando a espalhar esse “vento de doutrina” que, a nosso ver, contraria o próprio Cristo:
 
“E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte. ” (Apocalipse 12:11)
“E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro. ” Apocalipse 7:14
 
         Outra figura que se destaca entre os arrebatacionistas é Enoque. O desaparecimento de Enoque, conforme Gênesis, 5:24, é uma passagem simbólica, assim como quase tudo o que está escrito no livro Gênesis, e que se relaciona com a origem do Povo de Deus. Os defensores da ideia dizem que ele foi arrebatado. Na verdade, a passagem não fala de arrebatamento, mas que Deus tomou Enoque para Ele, pois esse não havia visto a morte. Ora, quem conhece o básico da interpretação bíblica sabe que a morte, a que se refere a Palavra de Gênesis, não é a morte do corpo, mas a morte do espírito, provocada pelo desagrado a Deus. Enoque não viu a morte, porque ele andou com Deus, isso é, fez a Sua vontade. Ainda aqui, a letra das Escrituras é utilizada de maneira tendenciosa para sustentar a tese do arrebatamento.
         A única passagem que pode ser utilizada nas Escrituras a favor da possibilidade de alguém entrar fisicamente nos céus, isto é, de posse de seu corpo carnal, é a da subida de Elias num redemoinho. Não citamos aqui a ressurreição de Cristo, pois como não tivesse pecado, a sua ressurreição, a nosso ver, deu-se para o estado definitivo, ou seja, o Senhor ascendeu aos céus de posse do “corpo glorificado”.
 
“E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho. ”redemoinho. ” (2 Reis 2:11)
 
         A passagem é única nas Escrituras e, diante da narrativa bíblica, não se pode dizer que ela não ocorreu. Inclusive esse mesmo versículo tem sido utilizado pelos estudiosos de OVNIS, para dizer que Elias foi levado num “objeto voador não identificado”, e que os profetas eram “astronautas” de outras civilizações e outras teorias não menos consistentes.
         Elias e Eliseu tiveram suas vidas envoltas em manifestações de diversas naturezas. A questão da subida corporal de Elias aos céus é uma situação incomum e precisa ser examinada com mais procedência. Mesmo que, no ponto de vista da letra, a ascensão física de Elias aos céus seja considerada, ela não aponta para o arrebatamento coletivo de pessoas no final dos tempos. Uma coisa não aponta para outra.  
         Nenhuma dessas passagens bíblicas é clara o suficiente para dar a certeza de que, no Dia do Juízo, durante ele, ou depois do Juízo, haverá arrebatamento de crentes. Ao contrário, o que existe são afirmações de que alguns crentes sofrerão aflições, perseguições e morte. Isso não é apenas uma suposição. Tais fatos podem ser fartamente comprovados nos profetas e palavras do Senhor Jesus Cristo. Aos “arrebatacionistas”, algumas perguntas:
 
         . Quem entrará no Reino? Aquele que crê em Jesus Cristo, como Senhor e Salvador, ou aquele que crê no arrebatamento?
 
         . Para ser salvo e entrar no Reino de Deus, o homem precisa acreditar no arrebatamento? Se a resposta for “sim”, em que se fundamenta tal afirmativa?
 
         . Por qual razão os “pais da Igreja”, homens sábios que estudaram Novo e Velho Testamentos, durante séculos, nunca fizeram qualquer referência a um possível arrebatamento físico das pessoas, durante o evento denominado “fim do mundo”?
 
               Se alguém tiver interesse em responder que se fundamente nos textos bíblicos, informando Livro, capítulo e versículo, com os devidos argumentos, pois trataremos desse assunto somente no âmbito das Escrituras. Por fim, se alguém acredita no arrebatamento corporal, não nos tenha por inimigos. Não cremos nessa possibilidade, mas não lançamos anátema sobre os que creem. Porém aconselhamos às pessoas que acreditam a pensar, ao menos um pouco, na possibilidade de ele não acontecer. Convém lembrar que as Escrituras estão repletas de instruções que afirmam que o Povo de Deus terá de passar por muitas dores, aflições, perseguições e sofrimentos ligados ao fim do mundo. Afinal, para que serviria uma Igreja que se ausentasse nos momentos mais graves de testemunho e de socorro aos desesperados? Pense nisso. Que Deus nos ajude. AMÉM.
 
Texto revisto em 10/07/2015